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A importância da Vacinação

A chegada do outono dá início também à temporada de vacinação, especialmente contra a gripe. A vacina é desenvolvida para estimular o organismo a produzir anticorpos contra vírus e bactérias que propagam doenças. Nos últimos anos têm-se percebido a oposição de alguns grupos às vacinas, o que na opinião de estudiosos e especialistas é um grande equívoco. “As vacinas são meios seguros de proteção e de fortalecimento da imunidade”, atesta o biomédico Jhonathan Rocha, um dos diretores do Conselho Regional de Biomedicina – 3ª Região (CRBM-3).

Jhonathan Rocha também atua no Laboratório Clínico da PUC-GO e é professor de Imunologia do Instituto de Ciências da Saúde da Faculdade Alfredo Nasser. Ele explica que o reaparecimento de algumas doenças demonstra o descuido de parte das pessoas com a vacinação. E a situação preocupa. Orientar a população e disseminar informações corretas eliminando mitos e inverdades sobre as vacinas ajudam a neutralizar os efeitos das fake news, que questionam a eficácia do medicamento. Nesta entrevista, o biomédico e professor esclarece pontos fundamentais sobre o assunto.

Comente a importância das vacinas
As vacinas são compostos farmacológicos utilizados como medidas profiláticas para uma grande variedade de doenças infecciosas, que constituem medidas importantes em termos de saúde pública, no sentido de conferir imunidade contra patógenos.

O que elas provocam no corpo humano?
O objetivo das vacinas é estimular o sistema imunológico através da estimulação de um ramo da resposta imune conhecido como imunidade adaptativa, o qual apresenta, dentre outras características, a capacidade de gerar a chamada “memória imunológica”. Ao reconhecer os antígenos presentes nas vacinas, dois tipos de células chamados de linfócitos T e B são produzidos, sendo que estas últimas são as células que, quando ativadas, se diferenciam e produzem os anticorpos, que apresentam como principal função a neutralização de antígenos, impedindo assim que o indivíduo vacinado manifeste a doença clinicamente.

Há diferença entre vacinas em gotas ou injetáveis?
Além da via de administração, a diferença entre as vacinas em gotas orais ou injetáveis (administração parenteral) reside no fato de que para as doenças adquiridas pela ingestão de água e alimentos contaminados, como é o caso das rotaviroses e da poliomielite, é interessante que a gotinha faça o mesmo trajeto que os agentes, que nesse caso são vírus. Já para as doenças adquiridas por outras vias, opta-se pela administração injetável.
É válido também mencionar que as vacinas orais são produzidas com agentes virais atenuados, ou seja, agentes que perdem o seu poder nocivo nos preparos laboratoriais, enquanto que as injetáveis, geralmente, são produzidas utilizando agentes infecciosos inativados.

Há eficiência tanto da vacina única quanto daquelas em dupla ou tripla (ex: tríplice viral)?
Com relação a isso, quando se fala em vacinas duplas ou tríplices, fazemos referência às vacinas que destinam-se a mais de uma doença, não havendo relação com a eficácia. A essas vacinas é dado o nome de vacinas combinadas, a exemplo da tríplice viral que imuniza ao mesmo tempo contra sarampo, caxumba e rubéola.

Se há a necessidade de renovar a vacinação contra a gripe anualmente, porque isto não ocorre com as vacinas que previnem outras doenças?
Os vírus Influenza, causadores da gripe, são vírus que sofrem mutações constante, favorecendo a geração de novos sorotipos frequentemente, daí a necessidade de renovar a vacinação anualmente, uma vez que a cada ano são inseridos outros subtipos de agentes no imunizante (vacina). Os demais agentes não sofrem essas mutações na mesma frequência, o que colabora para que, uma vez imunizados, a imunidade perdure por um período de tempo longo.

Que outros hábitos podem ajudar a estimular a imunidade?
Quando falamos no sistema imunológico, temos que pensar em um conjunto de variáveis importantes para o seu bom funcionamento. Muitas destas variáveis associam-se intimamente até mesmo com a qualidade de vida global dos indivíduos. Assim, questões como a qualidade do sono, uma dieta balanceada, rica em vitaminas e a prática de atividades físicas são fatores de primordial importância para a higidez deste sistema. Outra questão bastante colocada hoje é com relação ao estresse crônico em que muitas vezes vivemos. Existe um hormônio chamado cortisol que está relacionado com os momentos de estresse e que tem atividade imunossupressora. Assim, é comum que em situações de alerta constante (estresse), os altos níveis de cortisol liberados no organismo deprimam o nosso sistema imunológico e favoreçam que algumas infecções se manifestem.

Em Goiás estão ocorrendo casos de meningite. Acredita que há a necessidade de imunização extra?
Os casos de meningite relatados até o momento ainda estão dentro da quantidade esperada, o que chamamos em epidemiologia de situação endêmica, de acordo com o que foi relatado pela Secretaria Estadual de Saúde de Goiás. Deste modo, não há motivos para alardes ou necessidades de imunização extra. O importante nesse momento é que a população seja conscientizada com relação ao esquema vacinal definido pelo Ministério da Saúde.

Na rede particular há vacinas contra o meningite que não são oferecidas pela rede pública, como fazer?
Entende-se por meningite um processo inflamatório que acontece nas meninges, que são membranas que estão presentes revestindo o tecido nervoso no sistema nervoso central (encéfalo e medula espinhal). Assim, vários são os agentes causadores destes quadros, incluindo agentes virais, bactérias, fungos e parasitos. Com relação às vacinas ofertadas pela rede particular e pública, o que muda é a cobertura, de acordo com o agente causador. O Ministério da Saúde (MS) recomenda e disponibiliza gratuitamente a vacina meningocócica C conjugada (menC) para crianças até 4 anos e para adolescentes de 11 a 14 anos. Além da vacina menC, existem duas outras vacinas contra a doença: a meningocócica conjugada ACWY e a Meningocócica B recomendadas pelas sociedades brasileiras de Pediatria (SBP) e de Imunizações (SBIm) para crianças a partir dos 3 meses.

Na sua opinião, o que tem provocado esses boatos contra a aplicação das vacinas?
Acredito que o ponto chave com relação a este assunto seja a desinformação de uma boa parcela da população. No século passado já passamos por situação semelhante na chamada “Revolta da Vacina”, onde houve uma insurreição popular à campanha da vacinação obrigatória colocada em prática pelo sanitarista Oswaldo Cruz. Desta forma, faz-se necessário que nós, profissionais de saúde, cumpramos com o nosso papel de orientar e informar sobre a importância da imunização através da vacinação através de campanhas nos diferentes tipos de mídia e atividades educacionais em ambientes de saúde e também e escolas, creches, em busca de atingir o maior quantitativo de pessoas possível.

Quais as oportunidades para os biomédicos na área de Imunologia?
A imunologia é uma ciência experimental e que está em constante expansão. Assim, para o profissional biomédico, além da área de atuação em Análises Clínicas, que contempla a realização de ensaios sorológicos no setor de Imunologia, existe também a possibilidade de atuação na área de pesquisa, principalmente nas Universidades Federais, com a realização de cursos de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado). Atualmente várias respostas terapêuticas estão sendo buscadas através do estudo da Imunologia, em inúmeras áreas da medicina, como na Infectologia, Alergologia, Reumatologia e até mesmo na área da Oncologia, com a utilização de ferramentas imunológicas para o tratamento de alguns tipos de câncer. (Imprensa CRBM-3)